CARTA DO FILHO
PORTUGUÊS À SUA MÃE:
- Querida
mamãe,
- As coisas não estão indo bem aqui
no Brasil. A minha esposa Maria, que aliás, também é tua nora, ficou adoentada e
levei-a ao ginecologista, que imediatamente nos perguntou se tínhamos orgasmo.
Fomos embora do consultório na hora, pois tínhamos Golden
Cross. A coitada não pôde nem mesmo ser atendida, ora pois.
Se não bastasse isto, teu filho é um fracassado nos negócios. Acabei
com todo dinheiro que vovô me deu. Primeiramente comprei um táxi, mas não conseguimos
nenhum passageiro. Ainda bem que a Maria estava sempre no banco do passageiro me
consolando, o apoio dela foi fundamental. Daí, então, fui trabalhar em uma loja de
carros usados e fui despedido logo no primeiro dia.
- Imagine só: para cada Uno vendido,
eu dava um Prêmio de presente, e ainda estou sendo processado por furto!
Ai então, tentei novamente ser empresário, e dancei de novo. Abri um
parque de diversões e, atendendo ao apelo dos clientes sadomasoquistas, construí um
cinema cento e oitenta graus. Infelizmente, eles não resistiram e morreram carbonizados.
Se não bastasse, fecharam o parque e atualmente respondo a um processo de homicídio
doloso.
Arrasado, tentei outro emprego, dessa vez, em uma loja de tecidos na 25
de Março. As coisas não estavam indo bem e o Sr. Assad me pediu que fizesse uma
"queima de estoque". Não entendi, mas ordens são ordens... Aí, queimei um
quarteirão inteiro, fui despedido e ainda falaram que a culpa era toda minha, razão pela
qual estou respondendo a um processo de tentativa de homicídio e outro de destruição de
patrimônio.
- Nem ao menos posso me divertir
andando de skate. Aqui no Brasil tem só subida, ora pois.
Na verdade o povo daqui e muito estranho. Entrei um dia desses no
elevador de um prédio e o motorista me perguntou que andar eu iria, aí resmunguei que
qualquer um, pois já tinha errado de prédio mesmo. O raio do motorista começou a rir de
mim, estranho não é? Pobre motorista.
E se não bastasse tudo isso, acabei com o pouco dinheiro que me
restava, vindo a comprar uma caixa de naftalinas para matar as baratas que andam pela
minha casa. O problema é que minha pontaria é uma droga e não consegui acertar nenhuma.
Aí fui conferir o jogo que vim a jogar na Super - Sena e me ocorreu
algo engraçado: eu sempre perdia. Ai, um belo dia, depois de muito tentar ganhar, ao
conferir o jogo, descobri que tinha empatado, ora pois. Joguei o bilhete fora. Será que
algum dia eu vou ganhar?
Te escrevo agora da prisão, pois levava a Maria para passear e meu
furgão foi abordado por um policial que me pediu o documento da Besta.
Imediatamente dei o meu passaporte. Não é que o guarda me ofendeu e
me disse que não queria o meu passaporte. Já que nós não nos entendemos, me pediu
então o documento da perua, razão pela qual dei o passaporte da Maria. Não é que o tal
guarda ficou nervoso e me ordenou que eu saísse e colocasse minhas mãos sobre a
cabeça... mamãe, eu juro que o obedeci, não tive culpa que a
peruca dele caiu, o homem ficou uma fera e me prendeu por desacato!
Mamãe, não vou poder pegar o Manolo no aeroporto amanhã, pois estou
preso.
Mas peça para ele me aguardar, que quando sair daqui vou buscá-lo lá
mesmo.
Um abraço a todos, e um beijo de seu eterno,
JOAQUIM MANOEL